Crédito Habitação

Crédito habitação na Zona Euro: BCE regista “forte queda” na procura

Bancos também apertaram os critérios de concessão dos empréstimo habitação, diz BCE. E antecipa novas restrições em 2023.
08 fev 2023 min de leitura

A procura por crédito para aquisição de habitação na Zona Euro registou a maior contração de toda a série histórica no último trimestre de 2022. Este cenário reflete os efeitos da subida das taxas de juro, do maior pessimismo dos consumidores e da deterioração das perspetivas do mercado imobiliário, conforme aponta o Banco Central Europeu (BCE). A queda na procura por crédito habitação foi, sobretudo, sentida na Alemanha e na França. Em Portugal também foi registada uma diminuição.

"A quebra da procura líquida de crédito habitação foi a mais forte de que há registo. A procura por crédito ao consumo e outros empréstimos às famílias também diminuiu acentuadamente em termos líquidos, embora em menor grau do que no crédito habitação", refere regulador europeu na última edição do estudo sobre empréstimos bancários, publicado a 31 de janeiro.

Nesse sentido, a instituição aponta que a contração histórica na procura de crédito habitação é um efeito direto da conjugação de três fatores:

  • aumento das taxas de juros;
  • queda da confiança dos consumidores;
  • evolução das perspetivas sobre o mercado imobiliário.

Estes dados “refletem o atual ambiente de menor confiança do consumidor e desaceleração económica, aliado ao aumento dos juros em resposta à alta da inflação", refere o BCE no mesmo documento. Pelo segundo trimestre consecutivo, as perspetivas para o mercado imobiliário contribuiram negativamente para a procura, algo que não acontecia desde 2013.

E este cenário acaba por explicar o abrandamento observado recentemente na subida dos preços da habitação na Zona Euro. Além disso, em vários países da União Europeia – Dinamarca, Suécia, Finlândia, Roménia, Itália e na Alemanha -, os preços das casas para comprar desceram no terceiro trimestre de 2022 face ao trimestre anterior, de acordo com os dados mais recentes do Eurostat.

Quais são os países onde se sentiu maior contração da procura por crédito habitação?

O arrefecimento da procura por crédito habitação foi sentido um pouco por toda a Europa no final de 2022, mas em dimensões diferentes. Na Alemanha e na França, a queda líquida na procura por empréstimos habitação foi mais pronunciada, já que 93% e 90% dos bancos registaram uma contração, respetivamente. Este foi um valor bem superior à média da Zona Euro, em que 74% dos bancos sentiram esta contração da procura do crédito habitação nos últimos três meses do ano. Já em Espanha e em Itália só 20% e 45% dos bancos, respetivamente, sentiram este arrefecimento.

No nosso país, os bancos também sentiram uma diminuição na procura de empréstimos por parte dos particulares, “sobretudo para aquisição de habitação”, indicou o Banco de Portugal (BdP) no inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito de janeiro.

Os fatores que contribuíram para que houvesse uma queda na procura de crédito habitação em Portugal vão ao encontro dos apontados pelo BCE. “A confiança dos consumidores, o nível geral das taxas de juro e, em menor grau, as perspetivas para o mercado da habitação contribuíram para reduzir a procura de crédito à habitação”, explicou o regulador liderado por Mário Centeno no mesmo documento.

Ainda assim, de acordo com o BCE, as perspetivas para o mercado da habitação tiveram um efeito negativo mais expressivo na procura de crédito habitação em França e na Alemanha, do que em Itália. E não tiveram qualquer impacto em Espanha.

E como será no início de 2023? O banco central alerta que, no primeiro trimestre de 2023, os bancos esperam outra “forte” queda líquida da procura de crédito habitação na Zona Euro, com uma percentagem estimada de 49% - sendo este um valor inferior ao registado no quarto trimestre de 2022 (de 74%). Em Portugal, também se prevê uma “diminuição da procura, particularmente acentuada no segmento da habitação”, admite o BdP.

Mais restrições à concessão de crédito habitação na Zona Euro

Do lado da oferta de crédito, os bancos da Zona Euro também reportaram um forte aperto dos critérios aplicados aos empréstimos às famílias para aquisição de habitação e ao crédito ao consumo, refere o BCE no estudo realizado entre 12 de dezembro de 2022 e 10 de janeiro de 2023, que contou com a participação de 151 bancos.

E quais são os fatores pode detrás desta tendência? “Uma maior perceção de risco somada à menor tolerância ao risco e ao maior custo de recursos e restrições de balanço”, explicou o BCE, dando nota que este foi o quarto trimestre consecutivo em que tanto a perceção como a tolerância ao risco tiveram um impacto mais forte nos critérios da oferta de crédito habitação.

Também em Portugal os critérios de concessão tornaram-se “ligeiramente mais restritivos no crédito à habitação”, concluiu o regulador português. “A perceção de riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais contribuíram para critérios de concessão de crédito mais restritivos para empresas e particulares para aquisição de habitação”, esclareceu o BdP.

No que diz respeito aos termos e condições dos créditos habitação, em Portugal sentiu-se um “ligeiro aumento do spread em empréstimos de maior risco”, devido à “perceção de riscos e a tolerância de riscos”, explicou o regulador, indicando que se prevê que os critérios de oferta de crédito vão ser “ligeiramente mais restritivos para particulares” num futuro próximo.

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